Vemos tempos difíceis para os viajantes. Logo quando as restrições ao coronavirus começam a ser levantadas, outra ameaça aos nossos sonhos de conhecer novos lugares mostra-se à vista: a guerra entre Rússia e Ucrânia.

Esse post é produto de uma extensa análise da mídia internacional, na qual compilamos as principais opiniões de especialistas sobre o conflito e as aplicamos ao setor de turismo. Reunimos aqui os principais fatores que podem impactar a sua viagem.

1) Espaços aéreos mutuamente fechados

Atualmente, 37 países têm seu espaço aéreo fechado para aeronaves de origem russa. Por outro lado, a Rússia devolveu as restrições a 36 desses países. A tabela a seguir é um resumo de várias notícias da mídia internacional sobre o tema, até 05/03/2022:

Informações retiradas de (1), (2) e (3).

Além disso, a Rússia é um país transcontinental, tendo seus aeroportos um papel importante nas conexões de voos entre a Europa e a Ásia. A seguir, podemos ter noção da vastidão do território russo: 

Assim, muitas rotas tradicionais do transporte aéreo que antes passavam pela Rússia agora terão que realizar desvios. Isso pode se refletir em viagens mais longas e/ou com mais escalas/conexões.

Além disso, a companhia aérea estatal Aeroflot interromperá todas as rotas internacionais, com exceção à Bielorrússia, a partir de 08/03/2022 (4). Tal medida parece uma resposta às sanções econômicas impostas à Rússia, pois muitas delas tornam praticamente inviáveis as operações da empresa. Uma das mais duras sanções às companhias aéreas russas foi a interrupção do suprimento de peças de reposição por parte da Boeing e da Airbus (5).

2) Possível aumento dos preços de todas as passagens aéreas

Conforme mencionado, a alteração para rotas mais longas e mais escalas e conexões têm o potencial de encarecer as passagens aéreas para os voos na Eurásia (6).

Outro fator relevante, nesse sentido, é a estrutura de custos das companhias aéreas. As aeronaves utilizam, para voar, diversos derivados do petróleo, querosene de aviação e lubrificantes. Esse é um dos principais custos das companhias aéreas. No Brasil, tal parcela representa, em média, 1/3 dos custos operacionais das companhias aéreas (7).

A Rússia é um dos maiores exportadores de petróleo do planeta, respondendo por 11% da produção mundial da commodity, em 2019 (8). As sanções econômicas contra o país impedirão que essa oferta seja entregue ao mercado petrolífero global, fazendo com que o preço suba. Abaixo é apresentado um gráfico que mostra o movimento dos barris de petróleo Brent e WTI ao longo do mês de fevereiro. 

#makelovenotwar 

Preço do barril de petróleo (em dólares) (9).

Ou seja, os barris, que eram negociados a próximo de USD 90,00, agora são negociados a por volta de USD 120,00, representando quase 30% de alta. Apesar da fraca demanda vivida pelas companhias aéreas, em algum momento o aumento dos custos de lubrificantes e combustível será repassado ao preço das passagens aéreas. Tal realidade impactará todo o setor aéreo, incluindo os voos domésticos brasileiros.

3) Impacto cambial

Em um cenário de incerteza, é comum que o volume financeiro saia dos países em desenvolvimento para países desenvolvidos, sobretudo para os países da Europa e psra os Estados Unidos. Isso causa uma intensa desvalorização das moedas emergentes frente às “moedas fortes”. Esse fenômeno é conhecido no mercado financeiro como fly to quality (10). Mesmo com tal fenômeno, o valor do real brasileiro frente ao euro e ao dólar vem se valorizando desde o início do conflito (11).

Uma explicação possível é que, apesar de não militarmente envolvidos, a Europa occidental e os EUA participam indiretamente do conflito, ao lado da Ucrânia, impondo sanções econômicas à Rússia, o que gera uma percepção maior de risco nas suas moedas.

Outra explicação é o fato de que o Brasil é um grande produtor de petróleo. O país produziu, em 2020, 3% do petróleo consumido no mundo, colocando-o como o 12º maior exportador em todo o planeta (12). Assim, a retirada da Rússia do mercado petrolífero global pode aumentar a demanda pelo petróleo brasileiro, fazendo com que o real se valorize frente às demais moedas.

4) É seguro viajar à Europa?

Os países da União Europeia são membros da OTAN, aliança militar que garante a eles proteção mútua em caso de conflito. Contudo, os especialistas ouvidos pelo Washington Post disseram que é extremamente improvável que o conflito estenda-se para todo o continente (13). Dessa forma, não há risco palpável ao se visitar os países membros da União Europeia.

Não há interesse em uma guerra de grandes proporções na Europa, pois facilmente isso se escalaria em um conflito global envolvendo armas nucleares e, considerando a tese da destruição mútua assegurada, nenhum adversário deseja utilizar armas nucleares (14).

Entretanto, viajar para os países próximos, como a Polônia, pode não ser uma boa ideia, devido à crise humanitária que se alastrou com a saída de 1 milhão de refugiados ucranianos para os países vizinhos. Evite, principalmente, as áreas de fronteira próxima a Ucrânia (15).

Além disso, Putin parece ter iniciado uma disputa por influência na região das antigas repúblicas da União Soviética. Dessa forma, é prudente que, nesse momento, evite-se: Armênia, Azerbaijão, Bielorrússia, Cazaquistão, Estônia, Geórgia, Letónia, Lituânia, Moldávia, Quirguistão, Rússia, Tajiquistão, Turquemenistão, Ucrânia e Uzbequistão (16), além das áreas envolvidas no conflito armado.

5) Caso você já esteja na Rússia

A Rússia foi excluída do sistema de pagamentos internacional, o SWIFT. Assim, nenhuma remessa cambial ou cartão de crédito internacional irá funcionar nessa jurisdição. Uma alternativa, caso você já esteja na Rússia e necessite de dinheiro, é a utilização de criptomoedas. Uma corretora que utilizo para realizar meus investimentos em criptomoedas é a Binance. Ela aceita depósitos em real, via PIX. Feito isso, você poderá sacar para sua carteira e transacionar nos estabelecimentos russos que aceitam tais valores.

É provável que você tenha seu voo cancelado, dadas as sanções impostas. Creio que a maneira mais segura de deixar o país seja ir até Pequim de trem, saindo de Moscou. São 6 dias de viagem. Da capital asiática você conseguirá voos para o Ocidente (17).

Busque ficar seguro, acima de tudo. Evite áreas próximas ao conflito.

6) Considerações finais

Por fim, a motivação da escrita desse post é pessoal. Em abril de 2022, visitarei a Espanha e a Itália. Esse post é o compilado de tudo o que considerei na hora de decidir manter a minha viagem para a Europa.

O post de hoje demandou muitas horas de trabalho e pesquisa. Se você gostou, peço que nos siga nas redes sociais e que compartilhe o post com todos aqueles que estão indo viajar nesse momento.

Repudiamos de maneira veemente as ações militares russas na Ucrânia, bem como qualquer forma de agressão internacional e violação dos Direitos Humanos.

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