Skiplagging: como lucrar em cima das companhias aéreas

1)Introdução

Viajar com o orçamento apertado é uma situação muito complicada. Quando nossa grana está no limite, e ainda assim precisamos viajar, não tem jeito, acabamos tendo que pegar aqueles voos péssimos, leia-se: com um milhão de conexões/escalas. Mas, e se eu te dissesse que, em alguns casos, isso tem solução. O nome dessa solução é skiplagging.
Skiplagging é, basicamente, em voos com conexão, comprar uma passagem para um destino final “laranja”, com o intuito de descer na conexão, a qual é o seu destino real. Isso pode ser financeiramente vantajoso devido à lógica de um voo com escalas ser menos cobiçado que um voo direto. Assim, as companhias aéreas tendem a vender o serviço melhor aos que estão dispostos a pagar mais por ele.

2) Porque dar o “cano”?

Para resumir, por economia. Veja um exemplo de voo candidato a skiplagging, recém-cotado:
Os voos cotado no Skyscanner em 17/12/2021.

Como se pode perceber, ao embarcar no voo para Belo Horizonte (CNF), será utilizado, no primeiro trajeto, exatamente o mesmo voo de quem irá do Rio de Janeiro (GIG) para Campinas (VCP). A grande diferença é que o usuário da técnica economizará 38,64% do valor da passagem em relação a quem optou pelos métodos convencionais.
A técnica funciona excelentemente quando utilizada em época de promoções de passagens. Por exemplo, em 2019, a Gol fez uma grande promoção de passagens e, como era de se esperar, as melhores ofertas não eram com destinos diretos. O voo direto para Curitiba (CWB) era certa de 120,00, enquanto com conexão era 83,00. O voo a Guarulhos também saia a 83,00; tendo uma pausa em CWB.
Além disso, esse método já me livrou de pagar 600,00 reais em uma passagem de última hora (com uma semana de antecedência). Eu precisava voar de Porto Alegre até minha casa no Rio de Janeiro, e consegui fazer isso por 281,00, ao colocar como destino Curitiba. 
Essa maneira de cotar passagens não é garantia de descontos na totalidade das vezes. As cias tem utilizado inteligência artificial para coibir essa prática, mas, em alguns casos, ela ainda funciona.
3) Requisitos Básicos
Para que a técnica dê certo e seja vantajosa, são necessários alguns conhecimentos simples, mas fundamentais.
3.1. Tipos de Bagagens
Existem 3 tipos de  bagagens: as de colo, as de mão e as de porão. As bagagens de colo são as mochilas e pequenas bolsas que viagem com você ou embaixo do assento da frente. As de mão são as bagagens de até 10 quilos que vão dentro do bagageiro do avião. Já as bagagens de porão tem até 23 kg e vão despachadas em outro compartimento da aeronave. A tabela a seguir sumariza informações relevantes da sua bagagem.
Tabela de autoria própria: tipos de bagagem.

Como é possível notar, ao embarcar com uma bagagem enquadrada como de porão, você será obrigado a despachá-la. Já a bagagem de mão pode ser despachada, por sua vontade ou por exigência da cia aérea, devido à superlotação do compartimento interno do avião. A bagagem de colo é a única que em hipótese alguma será sujeita ao despacho compulsório. Essas informações levam em conta a premissa de que você não está transportando um item restrito, como um facão ou produtos inflamáveis em aerossol. Se esse for o caso, a cia te obrigará a despachar a bagagem independentemente do peso/tamanho.
3.2. Escala X Conexão
Outro conhecimento fundamental é a noção clara da diferença entre escala e conexão, posto que, apesar da diferença, é bastante comum o uso de ambos como sinônimos. Na escala, o avião pausa apenas para embarque ou desembarque, sem necessidade do passageiro trocar de aeronave. Por outro lado, na conexão, sua passagem possui dois ou mais voos para que você chegue em seu destino final. Nas conexões o passageiro deve trocar de aeronave. O desembarque em um voo com conexão é obrigatório, enquanto apenas alguns passageiros desembarcam no voo com escala. Tenha ciência que o desembarque em voos com escala requer mais atenção, pois a troca de aeronave é um pouco mais “tumultuada”.
3.3. Premissa Básica de São Paulo Como Destino Universal

Entenda que São Paulo não é a capital do Brasil, mas, para a indústria aérea, é como se fosse. Isso porque há voos direto para lá partindo de todas as capitais do País. Assim, é um destino fantasma bem comum de se colocar. Além disso, o aeroporto de Viracopos, em Campinas, é hub logístico da Azul, ou seja, boa parte dos voos da companhia passam por lá, tanto em conexões quanto em escalas. Essas características fazem de Sampa um excelente destino fantasma.
3.4. Consequências

O que vai acontecer comigo? No geral, no pior dos mundos, terá que ir até o destino final, pois o maior risco real que você corre é o de o seu voo ser alterado e não mais passar pelo seu destino real. A técnica é ilegal? Não há regulamentação sobre isso no país. No exterior existem poucos casos de empresas aéreas que processaram passageiros pela prática, mas ainda assim não chega a ser algo que mereça preocupação relevante, dada a raridade dos casos. Em voos nacionais, nunca soube de qualquer caso e já utilizei dezenas de vezes essa técnica. 
4) Skiplagging na Prática
Vou ensinar um passo-a-passo de como planejar um roteiro “laranja”, na prática.

4.1. Melhores Destinos para Utilizar

Em teoria, qualquer destino pode funcionar para fins de aplicação da técnica. Entretanto, levando em conta a experiência das minhas próprias viagens, eu tracei aeroportos que são excelentes para funcionarem como destinos “laranja”. Eles ficam a distâncias em solo inferiores a 1,5 mil quilômetros entre os pontos mais extremos, facilitando o transporte rodoviário de última hora, em caso de erro. O mapa a seguir resume minhas 5 cidades favoritas:
A interpretação a ser extraída do polígono é a que, estatisticamente, você irá encontrar mais passagens com viabilidade de aplicação da técnica para destinos com, pelo menos, 2 dos 3 pontos dentro do polígono (destino real, destino “laranja ou aeroporto de partida). Além disso, dada a alta oferta de voos na área mencionada, é mais simples conseguir algum voo com um pausa no local que você deseja.
A técnica pode ser usada em qualquer direção, mas é bem menos provável de ser financeiramente interessante se for usada entre destinos com pouca oferta de voos (ex: tentar ir Rio de Janeiro a Belém, colocando como destino “falso” Manaus). Além disso, quando a pausa é em um aeroporto incomum de receber escalas/conexões, a chance de mudança é bem mais alta.
4.2. Gestão de Risco

Na utilização dessa técnica, é fundamental que o viajante tenha em mente a necessidade de fazer um cálculo do risco e, diante disso, uma análise de custo-benefício. O ideal é sempre evitar economias “porcas”, aquelas que ofereçam pouca vantagem para muito risco de dor de cabeça.
Por experiência própria, caso a sua pausa seja em um destino de férias, em alta temporada ou não esteja dentro desse circuito, tome bastante cuidado! Já montei uma viagem inteira pro “feriadão” baseada em skiplagging. Eu não fiz a gestão de risco apropriada e, por isso, tive de recomprar a passagem em cima da hora pagando “horrores”. O que extraí disso foram 3 coisas. Primeiro, não conte com a técnica se sua pausa é um destino com alta procura nas datas da viagem. A companhia pode facilmente mudar sua conexão para vender mais uma passagem a preços de alta temporada. Segundo, avalie se sua pausa é um local que comumente serve de “hub” (onde muitos passageiros fazem a troca de voos). Terceiro, avalie quantos dos três pontos estão dentro do polígono.
Montei uma matriz com os critérios que eu levo em conta na análise de um voo candidato a skiplagging. Eu atribui, arbitrariamente, a cada critério, a pontuação de 1, 2 ou 3. Se, no somatório total de pontos obtidos com o voo, o resultado foi igual ou menor a 8, eu cancelo a operação. Se o somatório for de 9 em diante, eu entro na operação. A matriz encontra-se a seguir:
Autoria própria: matriz de decisão de skiplagging.

Economia é um fator financeiro e o principal motivador do skiplagging. Esse fator é tão sensível que é a única exceção à regra de pontos da matriz. Caso a economia seja menor que 5%, aborte a operação. Desse critério é derivado outro: o custo do erro em relação a economia.
Risco é uma medida além da mudança de voos, pois leva em conta  o quão negativo um resultado pode ser. Caso haja, por exemplo, uma alteração surpresa em seu voo, e você termine em São Paulo ao invés de Curitiba, existem fartas passagens rodoviárias/aéreas para você chegar em seu destino. Ele é medido baseando no polígono de destinos candidatos a skiplagging. Como as cidades dentro da figura são extremamente interligadas, possuem grande oferta de voos e estão a distâncias próximas uma das outras, eu considero que um skiplagging onde todos os pontos estão dentro da figura possui um baixo risco. Se apenas 2 pontos estiverem dentro do polígono, a operação possui um médio risco. Caso haja até 1 ponto dentro do polígono, a operação possui alto risco, não sendo recomendada em casos de baixa economia.
Distância física é um critério fundamental pois, caso seu skiplagging seja “furado” pela empresa, e as passagens de avião estiverem absurdamente caras, pode ser necessário que você utilize um carro alugado ou um ônibus interestadual. 
Custo do erro é uma medida derivada da economia obtida e de uma situação hipotética em que você teria sofrido a alteração da pausa e foi obrigado a superar esse percalço para chegar ao seu destino. Normalmente, eu coloco o preço da passagem rodoviária de última hora e comparo com a economia obtida. Se a diferença do voo comum e o com skiplagging for superior ao custo da passagem “do desespero”, a operação pode ser realizada com segurança, pois, em todo caso, houve economia.
5) Quando Eu Não Gosto de  Fazer

Nessa sessão vou apresentar situações em que eu não gosto de fazer, mas tenho amigos/conhecidos que realizam. É uma avaliação pessoal minha e não é uma regra universal sobre a utilização da técnica.

Pessoalmente, não recomendo fazer skiplagging internacional. Acho que o risco de ficar preso em um país não planejado, por alterações supervenientes e imprevisíveis, é bastante relevante. Além disso, uma passagem internacional de última hora pode arruinar toda a economia com skiplagging feita durante uma vida inteira. 
Não recomendo a utilização da técnica enquanto não houver normalização do tráfego aéreo. A pandemia prejudicou muito o skiplagging, porque muitos voos foram alterados. No período compreendido entre junho de 2020 até o dia de hoje, tive mais voos cancelados/alterados do que durante a minha vida toda, mesmo em períodos de flexibilização das medidas de combate à COVID-19.
6) Quando Nunca Fazer

Nesta seção vou apresentar situações em que não se deve utilizar skiplagging absolutamente, pois haverá problemas.
Não se deve utilizar a técnica quando se compra ida e volta, pois, ao faltar em um trecho, a companhia aérea irá marcar sua reserva como “no-show”, fazendo com que o trecho de volta seja cancelado. A única garantia ao comprar um voo do destino A ao B é que você chegará a B, ou seja, no caso de troca de conexão/escala, você não poderá reclamar ou pleitear uma indenização judicialmente.
Não se deve utilizar skiplagging se a economia não for relevante (menor que 5%). Isso porque, no longo prazo, as poucas alterações em seus voos serão suficientes para te dar prejuízo. A técnica sempre envolve risco e para trazer retorno financeiro ela exige que a economia de casa voo faça sentido. Existem viajantes que “se sujam” por muito pouco. 
Não se deve utilizar esse método se você planeja despachar bagagem. Não é simples o trâmite de reaver bagagens entre as conexões longas, sendo impossível em conexões curtas. Portanto, para utilizar o skiplagging, nunca utilize se tiver despachado bagagem.
7) Dica Bônus
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